Elienai Cabral Junior

Texto do Elienai Cabral Junior, pastor da AD Betesda Fortaleza, no aniversário de 15 anos da sua filha...sem comentários...


As melhores memórias são sempre afetivas. Têm cor. Tem cheiro. Tem sentimento.
Quinze anos de Ana Clara é uma experiência sagrada. Sinto o cheiro doce do corpinho ainda lambuzado do útero. Depois de (des)esperar no corredor pelo nascimento e primeiro encontro com a minha Clarinha, ainda vejo o seu rostinho vermelhíssimo de vida e de choro. Trazido pela enfermeira, uma desproporção. O enorme colo da “Frida” e o corpinho tão frágil da Clarinha. Seu choro cessou tão logo me ouviu dizer: Oi, filhinha, é o papai! Já quieta, nos meus braços, abriu os olhos. Sei que só via vultos. Mas seu coração, tenho certeza, enxergava o papai com quem conversou durante toda a gravidez. Sua serenidade e delicadeza não foram suficientes para acalmar meu coração em taquicardia. Tive que devolvê-la para a enorme “Frida” para tê-la comigo depois e quase pra sempre.
Enquanto escrevo deve ter um cisco no meu olho. Ele insiste em lacrimejar! As cenas passam rápido na minha lembrança. Mas quero parar bem aqui. Nas tardes frescas da Praia do Futuro. Depois de um longo dia de uma agenda maluca, cumprida pela Clarinha fielmente ao lado do papai e da mamãe. Corria em casa, arrumava-nos rápido e íamos para um fim de tarde na praia. Já com dois anos, as perninhas roliças corriam pela areia, com um bracinho flexionado junto ao peito e o outro se movendo como que empurrando o vento para trás, coisa de quem tem pressa de viver. De longe, como que contemplando o melhor da vida, assistia à dança do nosso bebê sobre a areia da praia, iluminada pelos fracos e amarelados raios de sol. Lembro disso como quem degusta um bom vinho. Inebriado pelo gosto da vida. Sinto saudade do meu bebê.
Gostava de cantarolar seu nome, flexionando-o em diversas formas: “Clarinha, Clarita, Clariteira”. Seu riso fazia de mim um compositor incontrolável. Mas a melhor das farras era a de balançá-la segurando pelos tornozelos. Pra lá e pra cá para o desespero da vovó e o êxtase da Clarinha.
Tenho outra memória inconfundível, com gosto de camarão e o som do “Eu só quero chocolate” na voz de Tim Maia. Em Curitiba, no início das noites de todas a sextas-feiras, tínhamos um encontro marcado. Era a noite do papai fazer o melhor espaguete com camarão da cidade. Mas o melhor do prato era o preparo. Enquanto cozinhava, a Clarinha, já com os seus oito anos, colocava no som o Tim Maia cantando a nossa música. Cantávamos aos berros e dançávamos freneticamente na espaçosa cozinha do sobrado no Jardim das Américas. Seus olhos amendoados quase saltavam para fora.
Sinto saudade dessa Clarinha que mudou. Mas, confesso, estou deslumbrado pela mulher que vejo surgir. Não me atrevo mais às cócegas, nem aos beijos na barriga para arrancar suas mais gostosas gargalhadas. Seus lindos contornos de mulher agora se tornaram limites que antes não existiam. Agora só posso reverenciar o que vejo e torcer para que de vez em quando ela ainda queira um pouco de colo. Olho pra ela e mal consigo disfarçar minha admiração. Seus olhos graúdos são irresistíveis. Sua perspicácia em discernir as coisas a sua volta me enche de orgulho. Sua recente adesão ao meu flamengo, cujos jogos agora insiste em ver ao meu lado, é o melhor da festa. Sua alegria em estar com os amigos da Betesda e as várias programações da igreja acalma meu coração medroso.
Ela se tornou a Cacá da Gabriela e do Thales e a Ana Clara que desponta nos quinze anos cheia de beleza e personalidade. Hoje, sei o quanto gostava, apesar de me queixar, da pegação de pé da Clarinha. Mal conseguia ficar sozinho com a Bete. Agora cheia de amigos e gostos diversos, prefere a autonomia. É preciso partir. Deve ir. Fazer suas escolhas. Administrar suas mágoas. Descobrir outras alegrias. Construir seu destino. E voltar sempre que quiser.
Filha, divirto-me vendo-a tentando escolher uma profissão, um curso, tantos caminhos. Isso é uma delícia. Você deve desfrutar sem pressa e escolher sem perder o bom humor. A vida é complicada demais para ser levada muito a sério. É preciso se divertir um pouco com tudo. Como Jesus, comendo e bebendo com os amigos.
Clara, o amor é essa condição surpreendente de viver. Consigo listar sem dificuldades muitos erros cometidos por mim. Exigi mais que devia tantas vezes. Irritei-me outras além da conta. Cobrei o que você ainda não estava pronta para oferecer. Desperdicei momentos singelos e preciosos da vida com a minha ansiedade e expectativas. Coisas de um pai que ainda era um pouco menino quando se viu com uma Clarinha no colo. Mas minha alegria é garantida por uma verdade que nada pode tirar de nossa família: você é muito amada. E sei que o amor ultrapassa e encobre todas as nossas fragilidades. E todos os erros desaparecem entre tanta coisa linda que a gente vem vivendo junto. Que bom que você existe, Cacá.
Gostaria de protegê-la de tudo o que vejo ameaçá-la pela vida a fora, mas faria um mal maior. Roubaria de você o que é mais intenso na vida: a possibilidade vertiginosa de escolher e construir o destino. Foi assim que Deus nos criou. Isso gera algumas dores, mas faz de nós gente de verdade.
Mais solta e distante do que eu gostaria, mas muito mais intensa e mulher que já mais imaginei, sei que carrega na alma a certeza do nosso amor, os valores da nossa família e o Deus de seus pais. Tudo bastante para fazer de você uma mulher de alma doce, grave e sensível para Deus e todos ao seu redor. Aposto que você surpreenderá a todos com suas conquistas. Aposto que ainda experimentaremos alegrias não imaginadas. Aposto que você superará os piores obstáculos. Aposto na linda mulher, minha filha, minha amiga, meu amor. Aposto que você sempre voltará para o colo do papai (pelo menos de vez em quando, vai!).

Retirado de Elienai cabral Junior

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